A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO AMBIENTE ESCOLAR
A mediação como forma alternativa à solução de conflitos tem apresentado grande utilidade e resultados quando empregada no ambiente escolar.
Por ser uma técnica informal, voluntária e não adversarial de solução de controvérsias, a qual vislumbra tratar as diferenças à luz da empatia, da escuta-ativa e da comunicação não-violenta, a mediação, na esfera escolar, tem demonstrado aos alunos, professores e demais envolvidos como resolver conflitos de maneira emancipatória, responsável e promovendo a cultura de paz. Para crianças e adolescentes em formação social e psíquica, essas são, sem dúvidas, habilidades de fundamental relevância.
Para fins demonstrativos , um estudo realizado pela pesquisadora Sinara Mota Neves de Almeida , o qual foi destaque no jornal O Diário do Nordeste no ano de 2010 , concluiu que a mediação reduz significativamente os casos de indisciplina e agressões físicas e verbais no ambiente escolar.
Durante o período deste estudo, realizado para sua tese de doutorado em Educação denominada “Avaliação das concepções de violência no espaço escolar e a mediação de conflitos”, foi inaugurada uma sala de mediação em uma escola municipal de Fortaleza em que alunos foram treinados pela instituição para mediar conflitos internos, a fim de tentar reduzir os casos de violência então existentes. Notou-se significativa diminuição de furtos, roubos, agressões verbais e físicas e danos aos móveis.
Com isso, o projeto de mediação manteve-se e, além de diminuir a ocorrência de incidentes, proporcionou maior integração e conscientização entre os alunos.
Mas são diversos os modelos de mediação que podem ser aplicados numa instituição de ensino, não precisando se limitar, necessariamente, àquele em que os alunos são treinados para participar da facilitação do diálogo, conforme demonstrado no estudo acima.
A forma a ser empregada pode variar, levando em questão fatores como a cultura, necessidades e perfil da instituição de ensino em questão.
Neste sentido, uma das possibilidades é a mediação ser aplicada por intermédio de um membro do núcleo pedagógico (geralmente o professor), o qual, capacitado para tanto, lança mão de técnicas sobre os alunos privilegiando, sobretudo, a responsabilidade do aprendiz pelos atos praticados em detrimento da postura acusatória e punitiva.
Também é possível, consoante já demonstrado, que os próprio alunos sejam treinados e capacitados em práticas mediativas , de modo a facilitarem a solução de conflitos de outros alunos através de técnicas de comunicação, escuta e empatia. A mediação entre pares, como é conhecida, promove inúmeros ganhos: não apenas aos mediados, enquanto trabalham o conflito, mas também aos jovem mediadores, uma vez que, desde cedo, praticam o uso de recursos emocionais que desenvolvem a habilidade para resolver problemas e disputas ao longo da vida. No entanto, nem todo os conflitos são mediáveis pelos pares justamente por variarem de complexidade e, também, por muitas vezes envolverem seu relacionamento com colegas de escola.
Outra modalidade que podemos destacar é a mediação em rede, em que a escola prepara uma equipe de mediadores para atuar em todos os conflitos que lhe caibam, fazendo uso também de profissionais externos ao ambiente de ensino, tais como psicólogos, psicopedagogos, etc.
Por fim, e não menos relevantes, têm-se os círculos restaurativos, que são encontros onde alunos, pais e professores discutem, de maneira contextual, a circunstância em que os conflitos se instalaram, não ignorando também, o contexto familiar, que muitas vezes tem participação na conduta do agressor ou, até mesmo, no comportamento da vítima. Assim, através de técnicas e de encontros, o facilitador consegue promover diálogos em que visões e sentimentos são expostos, de modo a tentar solucionar e compensar dano causados, prevenindo, também, outras condutas danosas de ocorrerem por meio da empatia e compreensão.
De qualquer modo, independentemente do modelo a ser aplicado – que certamente levará em consideração critérios objetivos e subjetivos de cada escola – o fato é que a mediação escolar é mais um recurso que, além de tratar aspectos sobre reponsabilidade e empatia, privilegia as formas de interações sociais durante um período de desenvolvimento, sobretudo, cognitivo e emocional da criança. De acordo com Sinara Mota, “no âmbito escolar, a mediação se inscreve como uma ação socioeducativa importante, pois a reflexão produzida em situação de mediação contribui para pensar a discriminação, a opressão e a exclusão em todas as suas manifestações. Ou seja, colabora para a formação de sujeitos conscientes, participativos e solidários”
1. In ALMEIDA, Mozarly. Mediação Escolar Reduz Violência Entre Alunos . 2010. Disponível em:
2. In MP-CE, Ministério Público do Ceará. MP apóia Núcleo de Mediação Escolar em Croatá . 2008. Disponível em: